Chronicles of The Never Ending Valley - Cap 4 O Guerreiro do Fogo


Trilha sonora opcional

Capítulo 4 - O Guerreiro do Fogo



Toda partida deixa marcas... marcas de pessoas queridas... de pessoas que construíram um passado junto à você. Essas mesmas pessoas que dividiram momentos alegres contigo, foram as mesmas que você odiou em algum momento, assim como foram as mesmas que você amou e, se o sentimento foi verdadeiro, ama até hoje. Deixar meu lar não foi fácil para mim, apesar de tudo, eles eram minha família e talvez eu nunca mais os veria novamente.

O pôr do sol já estava se aproximando e logo estaríamos viajando à luz de tochas. Era mais correto descansarmos e viajarmos ao amanhecer para evitarmos problemas com os lobos selvagens. Porém, como a ordem de Ross exigia que todos estivéssemos no Vilarejo Mestre ao amanhecer, os guerreiros que nos acompanhavam não nos deram descanso e viajamos noite adentro.

O caminho estava escuro e continuávamos a caminhar pela densa floresta que separava nosso vilarejo da capital. Podíamos ouvir vários sons estranhos, ecoando através das árvores, que amedrontavam a muitos. Sons semelhantes à vozes de pessoas conversando algo que não entendíamos, sons de lobos uivando para a lua, que em breve já estaria coberta pelas escuras nuvens que se aproximavam dela. "Vamos mais rápido, bando de molengas." Gritou um dos guerreiros. Mas não adiantava, o medo era fulminante e muitos de nós nunca haviam sequer deixado seus vilarejos algum dia.

Os sons se intensificavam e já era possível perceber que alguns de nós choramingavam e tremiam bastante. De longe podíamos avistar sombras e vultos, como se estivéssemos sendo observados desde o momento em que entramos na floresta. Eu? Naquele momento eu estava tomado por um sentimento de temor e euforia, talvez fosse o momento de utilizar o que já havia aprendido, talvez algo inesperado acontecesse e eu poderia provar meu valor em um campo de batalha.

Não demorou muito até que alguns ficassem paralizados de medo e perdessem o controle de si. Algumas pessoas, frente à um medo terrível, agem de maneira inesperada, perdem o raciocínio lógico e reagem ao menor suspiro que ouvem. Um som forte foi ouvido atrás da última carruagem, que levava os alimentos e água.

- ALTO! - exclamou o Lian, o líder dos guerreiros sobre seu vigoroso cavalo - Verifiquem o estado da carruagem de alimentos!
- Sim senhor! - respondeu um de seus subordinados, se dirigindo à carruagem.

Com outros dois guerreiros e uma tocha, a carruagem logo foi iluminada.

- Senhor, os condutores da carruagem não estão aqui! - exclamou.
- Impossível! Todos em alerta! Vocês três, quero uma busca no caminho por onde viemos! Procurem qualquer sinal de bandidos! Vocês dois - disse apontando pra mim e um outro rapaz que estava ao meu lado - tragam a carruagem pra perto do bando, vocês serão os condutores e responsáveis por ela.

Ao dizer isso, subimos na carruagem e a adrenalina aumentou. Eu podia perceber que o outro rapaz sentia o mesmo.

- Elch Nord, muito prazer! - disse apertando minha mão.
- Joshua Keynes! - respondi.
- Você está com medo?  - perguntou com um sorriso na face.
- Um pouco, eu acho.
- Hehe... não se preocupe, eu não deixarei nada de ruim te acontecer. - disse ele com um tom firme.

De repente, sons de gritos vindos da direção onde os soldados foram averiguar:
- Aaarrgh...
- Corram!

Eis que surgem os apenas dois guerreiros correndo na escuridão, ofegantes e trêmulos, dizendo:

- Vamos todos morrer... eles são muito rápidos...
- Atacaram Lian ! O que faremos?

Eles continuaram correndo, entre o nosso bando e sumiram seguindo caminho. Todos começaram a gritar desesperadamente enquanto Elch se mantinha calmo, como se soubesse o que estava por vir. Meu coração saltava e já era possível sentir o cheiro de sangue se aproximando.

Todos gritavam continuamente até que um forte rugido assusta a todos e nos concede alguns segundos de completo silêncio. Olhares se cruzavam como se perguntassem uns aos outros: "E agora?". Sons de passos se aproximando bruscamente são ouvidos. Elch desce da carruagem e seus olhos se fitam no horizonte escuro, ele estende sua mão direita enquanto um vulto de um homem baixo, semelhante à um anão, se desloca rapidamente em sua direção. Ouviam-se suspiros de todos os camponeses e guerreiros presentes enquanto 'aquilo' se aproximava.

Em meio à densa escuridão, surge um cavaleiro com sua espada desembainhada, rápido como o vento, entre Elch e o estranho 'anão', cortando-o ao meio tão rápido que seus pedaços voaram em direção à Elch, que foi atingido com força.

- LIAN! O senhor está bem! Graças a Deus! - exclamou um dos guerreiros.
- Garoto, você é louco? - disse Lian, olhando fixamente para Elch. - O que pensa que estava fazendo? Se eu não aparecesse a tempo, você seria destroçado tão rápido que só iria perceber que estava morto quando o Wolob estivesse atacando outra pessoa.


Elch agora tremia, banhado de sangue da criatura chamada Wolob. Lian, posteriormente, nos explicou que aquele era o resultado de um lobisomem ter mordido um Hobbe em noite de lua cheia, e os Hobbes eram um tipo de anões fortes, semelhante aos gnomos, que viviam nas florestas como canibais enlouquecidos. Como se já não fosse o suficiente, o Wolob possuía o rosto de lobo, garras afiadas e músculos, como um lobisomem, mas possuía a altura de um Hobbe e não se transformava apenas uma vez, ficando assim por toda a sua vida.

Depois do incidente, Lian mandou que preparássemos o acampamento para descansarmos um pouco, separando-nos em turnos de vigia para que ao menor sinal de perigo, ele e os guerreiros restantes pudessem nos proteger, para que ao amanhecer seguissemos viagem.

Quanto aos dois outros guerreiros? Se é que se pode chamá-los de guerreiros, mais tarde encontramos rastros de sangue pelo caminho e alguns pedaços de vestimentas e espadas, mas não se ouviram mais falar deles.


- Vilarejo Mestre à vista! - gritou um dos guerreiros.
- Elch? Tudo bem com você? - perguntei enquanto conduzia a carruagem.
- Sim... - respondeu cabisbaixo.
- Pode me dizer o que deu em você? Ficar diante daquele monstro, simplesmente sem temer e ao mesmo tempo sem poder fazer nada... O que você pretendia?
- Incendiá-lo...
- O que? Como assim incendiá-lo?
- Sou o segundo filho de Fargus Dre, patrono das Cordilheiras Escarlate. Nossa privíncia consegue controlar as chamas.
- Hmpf! Espera que eu acredite que você é filho do patrono mais tirano que existe em nosso país? Se isso for verdade, então o que fazes aqui, se curvando diante de Lord Ross?
- Meu irmão mais velho mandou me matar, por ter medo de que eu pudesse assumir o trono antes dele, que vivia perdendo tempo com suas mulheres em seu harém, ao invés de aprender como se governa uma província.
- Mas espere! Se isso tudo é verdade, você é realmente um descendente dos manipuladores do fogo, por que não conseguiu incendiar o Wolob?
- ... - o silêncio foi sua resposta.
- Chegamos! - gritou um dos guerreiros - Parem as carruagens, todos vocês serão contados terão seus nomes e pertences escritos no livro de Ross. Façam uma fila!


A tristeza era nítida no rosto de Elch, se o ele dissera a verdade, algo deveria estar errado para que ele não pudesse manipular as chamas, mas o que seria? Sua história era mesmo verdadeira? E o que nos esperaria dentro dos portões do Vilarejo Mestre?


Fim do capítulo 4

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