Chronicles of The Never Ending Valley - Os Montes de Turquesa



Alguns segundos após fechar meus olhos e o brilho do sol já invadia meu quarto. Sim, aquela noite havia sido extremamente cansativa e eu não conseguia dormir. Era pra ser um dia de descanso e prazer, o sétimo dia da semana havia chegado e eu sequer havia dormido. Não conseguia parar de pensar em Ainigriv e no que havia se passado. Pensamentos terríveis sufocavam meu coração e eu sentia como se ele fosse implodir e consumir a si próprio. Talvez fosse o que eu realmente desejava...

Um som de passos à percorrer minha casa e logo alguém abrira a porta de meu quarto. Minha mãe, preocupada como sempre, entrando à me perguntar como foi a conversa com o Rawner - sim, este era o nome do Caçador.

- Como foi ontem, meu filho?
- ... - fiquei em silêncio durante alguns segundos - Ah mãe, foi ruim, ele me mandou afastar dela... mesmo sem motivos.
- Meu filho, isto é coisa de pai mesmo. Não se preocupe, ela não é a única garota do mundo. - respondeu com um sorriso
- ... - permaneci em silêncio, enquanto ela acariciava meus cabelos com suas mãos suaves.
- Vamos logo, acordem! Vamos nos divertir ao leste, na casa de meu irmão, hoje ele vai festejar. - disse meu pai.

Embora minha mãe tivesse me convidado várias vezes, eu não conseguiria me divertir em algum lugar. Eu precisava de tempo pra mim mesmo. Mas quanto tempo? Eu não resolveria aquele sofrimento interno apenas em um dia. Mesmo assim, preferi ficar em casa e reler cada carta que Leah me enviara, perceber cada detalhe, cada gota de amor em cada linha escrita por ela. Por algumas horas eu me perdi em minha mente, entrando em um tipo de estado vegetativo, como se sonhasse acordado, mas profundamente. Durante aqueles sonhos, se uma explosão atingisse minha casa, ainda assim eu não perceberia...

Vários dias se passaram e meu estado melhorou um pouco, eu conversava, passeava, me 'divertia', sorria e brincava. Sorria como um ator de teatro em sua bela performance, ninguém notaria, - era o que eu pensava. Enquanto meu disfarce convencesse as pessoas de que tudo estava bem, eu viveria 'feliz' e despreocupado.

Me levantava todos os dias e treinava como se não houvesse amanhã. Fortalecia cada parte de meu corpo enquanto buscava a perfeição nos movimentos. Rápido, preciso e sutil como o vento, eu me tornaria um guerreiro em pouco tempo e conseguiria, finalmente, crescer.

As províncias estavam agitadas com a falta de alimentos em suas terras, pois nossos patronos não entravam em acordo. Cada província possuía uma cultura específica e produzia um tipo de alimento baseado na fertilidade de seus campos. No meu caso, nosso monte possuía densas florestas com uma diversidade incrível de frutos, fazendo com que nunca precisássemos caçar. Além disso, nosso litoral era belo e propício à pesca, ou seja, bastava-nos apenas viver dos frutos e dos peixes, seríamos sempre fartos desde que deixássemos a própria natureza repor nossos suprimentos.

Não nos era permitido saber sobre as províncias vizinhas, já que não teríamos contato ou acordos, era apenas necessário saber dos limites das terras, os quais eu já tinha violado. Eu conhecia os campos das redondezas como ninguém, sabia cada tipo de animal que os habitavam, além de ter pisado nas terras secas do Vale de Ossos, um vale ao sul onde não há vida e nenhum viajante ousara passar por ali, mas eu insistia em enfrentar meus medos treinando naquele vale. Ele não possuía patrono ou habitantes, mas podíamos ver alguns animais caminhando pela linha do horizonte, mas, naquele terreno seco e infértil, possivelmente morreriam em breve, se tornando mais uma decoração para o Vale de Ossos.

Eu possuía uma vida normal, com minha família. Tinha um irmão mais novo bem chato, daqueles que conseguiriam passar um dia inteiro te irritando simplesmente para rir de sua cara, quando perdesse completamente a paciência, seu nome era Andrew. Tinha, também, uma irmã mais velha, que não conversava muito, tentava viver sua própria vida, sem que ninguém interferisse. Ela não participava de meu cotidiano, estava sempre preocupada demais com sua vida profissional que não tinha tempo para a família. Linda como um lince, seu nome era Lancey Vahn Keynes, puxando o mesmo sobrenome de minha mãe Farah Vahn Keynes. Meu pai? Bem, ele não era muito presente, mas quando estava, fazia questão de transformar tudo em sorrisos, mesmo que não fossem verdadeiros, ele queria vê-los. Seu nome? Persus Keynes, um transportador de pessoas e objetos. Ele ganhava a vida viajando em toda a nossa província, passava vários dias fora, mas sustentava o nosso lar com os Rox que ganhava. Este era o nome da nossa moeda, instituída pelo próprio Ross Tardelus, patrono dos Montes de Turquesa.

Alguns dizem que conhecemos verdadeiramente as pessoas quando as observamos vivenciando momentos de tribulação e aflição, e era isso o que nos aguardava. Um mensageiro de Ross havia chegado em nosso vilarejo, trazendo intimações para que cada família entregasse ao Vilarejo Mestre - nome dado ao vilarejo de nosso patrono - seu filho mais velho, para que pudesse ser treinado pelos guerreiros. Não haviam mais detalhes sobre os motivos, mas discutir sobre uma intimação era o mesmo que se rebelar contra Ross.

Eu não tinha mais nada à perder, não estava contente com meu estilo de vida e minha família. Não hesitei em arrumar minhas coisas e partir com eles, mesmo sabendo que minha família sofreria com isso. "Duraria alguns dias, logo logo teriam me esquecido" - eu pensava. Me despedi de minha família e parti com o mensageiro e os outros garotos, pronto pra enfrentar qualquer coisa. Ninguém desejaria mais aquele treinamento do que eu... Mas qual era o motivo da intimação? Por que nós deveríamos ser treinados? Lutaríamos contra quem?


 ...

Não percam o próximo capítulo "O Guerreiro do Fogo"


Abraços ^_^

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