Chronicles of The Never Ending Valley - A Noite - Prelude - Part I

Trilha sonora[opcional ^_^]

Era uma noite fria e chuvosa. As gotas de chuva se confundiam com as lágrimas em meu rosto enquanto eu caminhava pelas sombras. Os sons dos trovões já me eram familiares, pois meu coração batia como uma melodia singela de uma orquestra, que logo começa a chegar em seu crescendo se misturando ao som deste poderoso efeito natural,  que amedronta a muitos. Mas não a mim, não naquela noite.

Enquanto pensava no que havia de fazer à partir daquele momento, minha adrenalina elevada me fazia perder as forças, tentando me jogar no chão. Trêmulo, ainda continuava à caminhar, pois estava longe de meu lar e já era tarde, nenhum de meus amigos estaria acordado ou disposto a me amparar - assim eu pensava.

Há algum tempo atrás eu era considerado um tigre, talvez pela perspicácia belo animal, ou talvez pela sua aparência calma e tranquila, ou ainda, pelo seu senso protetor para com os filhotes, mesmo em circunstâncias extremas. Mas eu nunca poderia imaginar, que o peso de uma simples comparação, traria tantas consequências para mim, um jovem como qualquer outro, que vivia como qualquer outro, mas que não pensava de forma tão semelhante assim. Honra, dignidade, hombridade, amizade, amor, família e fé sempre tiveram significados particulares pra mim, nunca pensei que encontraria uma pessoa que pudesse pensar de forma semelhante, ou ao menos, entender parte de meu modo de pensar.

Pra alguém que sempre tentou simplificar as coisas, como eu, esta noite teria um papel decisivo em meu futuro. Eu poderia simplesmente deixar tudo o que eu acreditava, para trás e seguir meu caminho ignorando meu passado e todas as responsabilidades que conquistei por amar demais, ou eu poderia trilhar o caminho mais árduo e tentar entender tudo o que aconteceu, e planejar ainda mais um futuro incerto, onde apenas nos resta escolher entre cruzar a ponte que separa os mundos de um filhote frágil e dócil para se tornar um animal adulto, sensato e consequente.

Mas talvez fosse tarde demais para decidir cruzar esta ponte, pois a batalha entre os adultos já havia sido travada e minhas escolhas estavam limitadas. De um lado, O Caçador, inconsequente e insensível, - seu nome era desconhecido, mas meus olhos insistiam em vê-lo como um caçador alvejando um filhote de tigre selvagem - que tentava me destruir com seu pequeno exército de vinte homens. A batalha foi árdua, e eu não sabia o que fazer devido à infância, pois eu não era um tigre selvagem, mas sim um filhote de tigre que ainda nem possuía garras. Minhas armas? Eu não sabia o que era isso, ao contrário do Caçador, que não perdeu tempo e logo enviou seus homens à minha procura.

Ao contrário do que ele pensava, eu não fugi, mas me dirigi à sua fortaleza na província da Papoula Azul, sem ser interceptado por seus homens ou detectado pelos seus vigias, simplesmenteme apresentei aos seus servos e pedi que fosse levado até ele para uma conversa , afinal, os descendentes do meu povo não eram guerreiros nem diplomatas, mas eu sabia que aquilo era o certo a se fazer - mesmo que eu não soubesse se era o momento certo para se entregar sem lutar.

Naquela noite, eu estaria desprotegido, dentro da fortaleza de um inimigo declarado, que não possuía motivos sensatos para iniciar aquela guerra, - qual a guerra que possui motivos sensatos?  - mas lá estava eu, simplesmente eu, bem no meio da temível ponte, entre uma escolha apenas, que mudaria todo o futuro...
[continua...]